Em Aruba, o meio de locomoção é o carro. Apesar de fazer parte do reino holandês, aqui não existe o costume nem a infraestrutura para o uso da bicicleta. Quando, em meados dos anos cinquenta, a ilha passou por um desenvolvimento urbanístico, tudo foi planejado para o uso do automóvel, com ruas largas, muitos lugares para estacionar e ao mesmo tempo, poucas ou zero calçadas.
Os turistas que se movem pela parte dos hotéis e pelo centro, normalmente não notam, porque lá é uma das poucas áreas da ilha que existe calçada, mesmo que deficiente. Mas, nos bairros, só existe uma calçada meia-boca em alguns deles, mesmo assim, como a responsabilidade de fazer uma calçada na frente da sua casa é do próprio morador, muitos deles não fazem. Posso dar alguns exemplos da ausência de calçadas: eu moro a umas três quadras de um supermercado, mas é impossível chegar lá a pé, porque eu teria caminhar no meio da rua. Uma vez, meu marido foi comprar algo numa farmácia, mas chegando lá, a máquina de ler cartões estava estragada, então ele tinha que sacar dinheiro. Ele sabia que havia um caixa automático virando a esquina e resolveu ir a pé. Ele quase morreu atropelado porque teve ir para o meio da rua, era noite e os carros quase não o viam. Foi a última tentativa de fazer algo a pé.
Além disso, o transporte público é ruim e ineficiente. Isso é outra coisa que os turistas não costumam notar porque uma das poucas linhas de ônibus que existe é a que liga o setor de hotéis com o centro. Mas, no meu bairro, por exemplo, não existe nenhuma linha de ônibus que passe. A maioria dos poucos pontos de ônibus que existem não tem banco nem pérgola. Agora imaginem isso debaixo do sol inclemente.
Por isso ter carro aqui é uma necessidade. O índice de carros por pessoa é de 1 carro para cada 2, um índice bem mais alto que o americano, que também é uma cultura voltada para o uso individual de transporte e não coletivo. Praticamente todos os carros tem câmbio automático e ar-condicionado. Inclusive para se tirar a carteira, a prova é feita num carro com câmbio automático. Isso significa que a maioria absoluta dos arubianos nunca aprende a dirigir num carro com câmbio manual em toda a sua vida. O ar-condicionado é um sine qua non, num lugar onde não existe inverno e a temperatura varia entre quente e insuportavelmente quente, como agora, no verão.
O excesso de carros cria muitos congestionamentos, principalmente no centro. Às vezes, você pode pensar que houve um acidente ou que o tráfico está fechado em alguma parte, mas não é nada disso. O único motivo é o excesso de carros, que a ilha não comporta. O que chega a ser irônico, porque numa ilha tão pequena e plana, a mobilidade não deveria ser um problema.
Aqui ninguém faz nada a pé e, em muitos casos nem poderia. Mas a ausência de calçadas fez as pessoas pensarem que em Aruba é impossível andar a pé por causa do clima. Dois anos atrás, meu marido (que é arquiteto e urbanista) fez uma palestra na universidade local falando das deficiências urbanísticas da ilha, entre as quais a ausência de calçadas e ciclovias. Umas quantas pessoas levantaram a mão dizendo que esse tipo de coisa era inviável aqui por causa do clima. Daí ele explicou que no Brasil, as pessoas caminhavam e praticavam esportes ao ar livre, mesmo no verão quando a temperatura chegava a mais 40oC, o que deixou muitos incrédulos, já aqui a temperatura não passa de 33oC ou 34oC. Por sorte, uma arubiana que estava na platéia, comentou que era verdade: ela tinha visitado uma amiga que morava em Santos, que com seus 72 anos caminhava no calçadão todos os dias e ia à padaria e fazia as compras a pé.
Essa foi a razão de termos mudado para cá, já que meu marido foi contratado pelo ministério de infraestrutura para trabalhar na melhora urbanística da ilha. Atualmente, ele está trabalhando num projeto que vai remodelar todo o litoral, de uma ponta à outra. Esse projeto vai incluir uma ciclovia, calçadão para caminhar, estacionamentos para carros e bicicletas, bancos, sombra, etc. Em outubro, a primeira parte do projeto vai ser inaugurada, num trecho que vai desde a rotatória da casa de cultura (que fica entre o aeroporto e o centro) e o parque onde fica o Renaissance. Para que todo projeto se complete, vão ser necessários mais anos, mas se tudo der certo, futuramente, tanto turistas quanto locais poderão desfrutar do litoral ao mesmo tempo que se exercitam, de maneira mais saudável e menos poluente. A idéia é extender as ciclovias para os bairros, para que o uso de bicicletas possa ter uma finalidade não apenas de lazer, mas de transporte.
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