Hoje é dia 22 de março e tantas coisas aconteceram nos últimos dias, que acho melhor escrever agora antes mude tudo de novo. No dia 13 de março o governo anunciou os dois primeiros casos de corona vírus em Aruba. Um deles era um americano que veio a trabalho. Ele veio instalar uma impressora de grande capacidade para a companhia de eletricidade imprimir as contas e também dar um curso para que as pessoas soubessem como usá-la. O segundo caso foi de um residente que tinha ido de férias para Nova York.
No mesmo dia em que o governo anunciou esses dois primeiros casos também foi anunciado o fechamento das escolas. Também anunciaram um plano econônico que inclui medidas como suspender o pagamento de aluguel e de prestação da casa própria e anunciar que ninguém pode ser despejado nos próximos meses por falta de pagamento. Também no mesmo dia, anunciaram que a partir do dia 19 de março, o aeroporto ia ser fechado para todo tipo de pessoa que não fosse residente, ou seja, o país entrou em lockdown.
Pode parecer exagero para algumas pessoas, mas é estatisticamente comprovado que o vírus se espalha mais rápido em comunidades pequenas do que em grandes. Existem menos lugares para ir e a possibilidade de que as pessoas frequentem os mesmos lugares é grande. Além disso sabemos que a contaminação acontece de forma exponencial e nós temos recursos limitados. Alguns dias atrás o ex-diretor do único hospital da ilha fez um post no facebook explicando que o hospital só tem 17 respiradores artificiais. Estatisticamente, 8% das pessoas afetadas pelo corona vírus precisam usar esse tipo de aparelho. Isso significa que o máximo de contaminados que nós podemos ter sem que o sistema colapse está entre 200 e 250 pessoas.
Desde os primeiros casos, estamos tendo atualizações diárias duas vezes por dia. Um das vezes com o departamento de saúde falando dos casos, dos testes e das pessoas em quarentena. Esse é o boletim das 14h. E temos outra atualização com diferentes departamentos do governo às 19h. A cada dia novas medidas são anunciadas, como uma lista de produtos que passaram a ter o preço controlado, como fraldas descartáveis, papel higiênico, luvas e máscaras descartáveis, leite e pão entre outros.
Como 88% da economia da ilha vem do turismo, obviamente a decisão de fechar as fronteiras não foi algo facil. Estima-se que quase 80% dos trabalhadores fiquem sem emprego ou sem entrada de dinheiro, mas no momento o foco é manter as pessoas vivas, porque sem pessoas para trabalhar também não tem economia. O governo está tomando medidas que busquem minimizar o baque econômico porque desde o primeiro dia e tanto hoteis como restaurantes já fizeram demissões em massa. Todos os desempregados vão receber auxílio desemprego e quando a situação comece a se normalizar os empregadores deverão recontratar os empregados que perderam os seus trabalhos.
No dia 19 de março, todos os cassinos, cinemas e academias tiveram que ser fechados. Desde o dia 17 de março se proibiu a entrada de turistas. Entre o dia 17 e 21 se permitiu a volta de residentes que estavam no exterior, mas desde ontem não entra ninguém. O aeroporto ainda está aberto para que os últimos turistas que ainda estão aqui possam regressar para seus países de origem, desde que eles consigam algum vôo, porque a maioria das companhias aereas não está voando mais e pelo menos até maio não há previsão de nenhum vôo mais. Desde ontem à noite, dia 21 de março temos um toque de recolher das 21h da noite até às 7h da manhã.
Mais e mais medidas estão sendo continuamente anunciadas e eu fico mais tranquila com cada uma delas. Apesar de eu não ter apoiado o partido que está no governo, estou impressionada com o bom trabalho que a nossa ministra presidente está fazendo. Ela está tomando medidas duras, mas ao mesmo tempo todos as vezes que ela anuncia essas medidas, ela sempre parece calma, sem nenhum pânico, explicando aos jornalistas porque cada medida é necessária.
No dia de hoje temos 8 casos confirmados, sendo que um deles, anunciado ontem, foi o primeiro caso de transmissão comunitária. Temos mais de 600 pessoas em quarentena, que são pessoas que chegaram de viagem nas duas últimas pessoas e/ou pessoas que tiveram contato com os casos confirmados.
Espero que essa tempestade passe da melhor maneira para nós e consigamos nos recuperar para receber turistas outra vez. Até lá, as nossas praias belezas naturais vão ter um descanso merecido.